Por Nádia Medici
É difícil traduzir a palavra “saudade” em outras línguas, mas o sentimento que está atrelado a ela é sentido por muitos, em qualquer idade e lugar.
Ainda na infância, iniciam-se as primeiras percepções do mundo ao qual as crianças estão inseridas. Nessa fase, passam a compreender as regras pré-estabelecidas pela sociedade, sempre por meio da mediação do outro, associam e, com o passar do tempo, são capazes de transformar o meio em que vivem, dando novos significados ao que é aprendido. Ao mesmo tempo, percebem seus próprios sentimentos e precisam, antes mesmo de saber lidar, compreender o que o provoca.
Por isso, quando a criança expor saudade de algo ou alguém, não devemos colocar o sentimento em segundo plano, nem deixá-lo de lado. Precisamos ajudar a compreender esse sentimento e validar. A solução nunca estará no “engolir o choro”, mas sim no diálogo.
Saudade dos que se foram
Estamos sujeitos a perder pessoas queridas a todo tempo. O caminho para dialogar com as crianças sobre a saudade dos que se foram, é sempre lembrá-las de que a saudade é fruto de algo bom que foi vivido, que por trás da saudade há amor, memórias e experiências felizes.
Quando a criança conseguir expressar essa saudade, converse revivendo as histórias, fale que você também sente falta da pessoa e busque entender o que de fato ela sente falta. Pergunte “o que ele (a) fazia que você mais gostava?” e deixe o diálogo fluir.
A memória afetiva aquece os corações e, com o tempo, a saudade vai ocupando o espaço correto na vida das crianças, mas é preciso sempre estar atento à possíveis dificuldades e, se necessário, buscar um profissional para ajudar o processo.
Sem interrupção
Quando o diálogo sobre a saudade for pauta, precisa ser um momento de qualidade, ter atenção e envolvimento por ambas as partes, principalmente do adulto ouvinte. Por isso, reforçamos que, quando forem conversar sobre saudade, esteja sempre livre de interrupções, principalmente sem uso das tecnologias.
Deixe o celular de lado, converse, pergunte e fale sobre o que você sente. A saudade é um sentimento inerente ao ser humano. Não precisamos esconder o fato que também sentimos, sempre na intenção de ressignificar e orientar como lidar com esse sentimento.
Pandemia x Saudade
Uma saudade comum, nos últimos anos, e que foi sentida por muitas crianças, foi a saudade da rotina escolar, dos amigos, da professora, das brincadeiras na rua, entre outras coisas.
Nesse período, as famílias precisaram se reinventar para acolher os filhos em novos ambientes e espaços. A sala de estar virou um parque; o quarto, a brinquedoteca;mesa de jantar foi sala de aula; e por aí as famílias foram reformulando, priorizando que os filhos se sentissem num lugar seguro.
Enquanto for preciso nos adaptar aos novos tempos, sugerimos que estimulem o uso correto da tecnologia. Combinem com as mães de amigos uma videochamada, ligue para vovó que mora longe, mostre que todos estão na mesma situação, mas bem! Tratar a saudade com transparência e diálogo é uma excelente alternativa.